Como estará o mundo em 2050? As alterações climáticas terão tornado o nosso planeta inabitável? Conseguimos travar a poluição e a perda de biodiversidade, tornando a Terra um lugar mais verde e sustentável? A RECICLA não viajou no tempo para saber as respostas, mas debruçou-se sobre as estratégias ambientais que estão a ser implementadas rumo a um futuro melhor.

Economia circular

Muito se fala em economia circular, mas, afinal, em que consiste?

O modelo de economia circular pretende tornar a produção de bens e produtos num ciclo renovável. Ganha o nome de circular porque procura a reutilização, o reaproveitamento e/ou a reciclagem dos produtos, prolongando-lhes o tempo de vida.

Ajuda também a diminuir o desperdício e a gerar mais cadeias de valor, uma vez que, depois de cumprir o seu propósito inicial, os produtos podem ganhar nova vida, sendo aproveitados ou reciclados.

Traz ainda outras vantagens, pois, não só ajuda a reduzir a quantidade de emissão de CO2 para a atmosfera e diminui a pressão sob os recursos naturais no planeta, como promove a inovação e estimula o crescimento económico.

A esta altura, pode surgir uma dúvida: afinal, qual é o problema da economia linear?

A economia linear é assim designada porque o seu ciclo é findável, ou seja, tem início na extração de recursos naturais ou de matéria-prima que serve, de seguida, para produção ou manufaturação de produtos que, por sua vez, são distribuídos, consumidos e descartados.

Este modelo económico permite produzir a baixos custos, tornando os produtos mais acessíveis. No entanto, necessita de grandes quantidades de recursos e de energia.

Dados estatísticos da União Europeia (UE) dão conta de que, no total, por ano, os Estados-membros produzem 2,5 mil milhões de toneladas de lixo. Este facto, aliado ao crescimento da população mundial e ao aumento da procura por matérias-primas muitas vezes finitas, levanta problemas como a escassez de recursos, grandes consumos de energia e libertação de gases para a atmosfera, quer motivados pela extração, quer pelos processos de produção, conduzindo a um grande impacto ambiental.

Torna-se, portanto, fundamental mudar e tornar a economia mais verde e sustentável. E foi com vista a alcançar este objetivo e a tornar a Europa no primeiro continente com impacto neutro no clima que, no final de 2019, surgiu o Pacto Ecológico Europeu, também conhecido por Green Deal.

Pacto Ecológico Europeu | Green Deal

O Pacto Ecológico Europeu consiste num conjunto de metas e desafios que visam tornar a Europa o primeiro continente neutro em carbono até 2050. Os objetivos traçados pretendem incluir todos os Estados-membros de forma justa, conferindo apoio financeiro e assistência técnica às regiões com elevada dependência dos combustíveis fósseis e indústrias com utilização intensiva de carbono.

Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, “o Green Deal é a nova estratégia de crescimento da Europa”. Este pacto assenta em ações concretas, como atingir níveis de zero poluição, ter energia acessível, transportes inteligentes e elevada qualidade de alimentação. O que se irá traduzir em novos empregos, num ambiente mais limpo e numa maior qualidade de vida.

Assim, para esta transição ecológica, é necessário tomar diversas medidas nos diversos setores da economia.

É preciso investir em tecnologias não prejudiciais para o ambiente, apoiar a inovação industrial e descarbonizar o setor da energia. Para tal, estão a ser preparados apoios para a economia circular e para criar oportunidades económicas que ajudem cidadãos e as empresas a reduzir as emissões poluentes.

Com o intuito de travar as alterações climáticas, a UE tem vindo a estabelecer diversas metas que pretendem reduzir a emissão de gases de efeitos estufa, aumentar a quota de energias renováveis, sobretudo por via marítima, tirando proveito do vento, das ondas e das marés, e ainda melhorar a eficiência energética.

É necessário tornar os transportes um meio de deslocação mais sustentável. Dados da Comissão Europeia dão conta de que, entre 2011 e 2016, a quota de passageiros a utilizar comboio na Europa era de 7,6%, e a de mercadorias para o mesmo transporte era de 17,4%. É, pois, uma baixa utilização, a deixar margem para investir na promoção do comboio: afinal, é uma alternativa menos dispendiosa e mais sustentável.

Outra das estratégias em cima da mesa dá pelo nome de “Prado ao Prato”. Esta medida visa conduzir a um sistema alimentar, não só mais saudável, como mais sustentável. Para chegar aqui será necessário assegurar o acesso a alimentos saudáveis, acessíveis e sustentáveis, protegendo a biodiversidade, assegurando um rendimento económico justo e expandindo a agricultura biológica para 25% do terreno agrícola até 2030.

O que pode acontecer se não mudarmos?

As perspetivas de futuro, caso a Europa mantenha o estilo de vida até aqui implementado, não são positivas. Atualmente, por ano, morrem cerca de 400 mil pessoas de forma prematura devido à poluição atmosférica, segundo o relatório da Agência Europeia do Ambiente. Calcula-se que as alterações climáticas façam também aumentar em 16% as espécies em vias de extinção e que o calor e a seca provoquem cerca de 90 mil mortes anualmente.

O Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia estima ainda uma redução de 40% do volume de água disponível nas regiões meridionais e que anualmente haja meio milhão de pessoas expostas a inundações fluviais e 2,2 milhões a inundações costeiras.

Por tudo isso é necessário agir. Nas palavras de Ursula von der Leyen, “o custo da transição será alto, mas o custo da inação será muito mais elevado”.

Transição ecológica

Agir conduz-nos a um outro conceito, que é a transição ecológica. A transição, em primeiro lugar, é o movimento que pretende alcançar objetivos e, neste caso concreto, a transição ecológica consiste na implementação de um desenvolvimento mais sustentável.

Perante os diversos problemas ambientais com que o mundo se depara hoje são necessárias alternativas para garantir a sobrevivência das sociedades. A transição ecológica proposta pretende a eficiência energética e a utilização de energias renováveis; uma mudança industrial, que procura a produção local, de bens recicláveis e economias circulares; e uma transição agroalimentar, que visa a mudança para uma agricultura biológica e orgânica ao invés da industrial.

Mais do que ecológica, a transição será também digital. O objetivo da Comissão Europeia é tornar o continente neutro em carbono e líder digital, sendo, para isso, necessário uma nova estratégia industrial mais ecológica, mais circular e mais digital.

Para concretizar esta dupla transformação, há que investir, financiar e apoiar o setor rumo à transição para a neutralidade climática, manter as condições de concorrência equitativas a nível mundial, desenvolver uma economia mais circular e criar um mercado único mais aprofundado e mais digital.

Economia Donut | Doughnut Economy

No mesmo rumo de uma transição ecológica insere-se a teoria Doughnut Economy (economia donut), da economista Kate Raworth. Assim denominado devido à sua estrutura visual, este modelo propõe um desenvolvimento sustentável em que a economia é considerada próspera quando as suas bases sociais, como a saúde, educação e equidade, são asseguradas e não são ultrapassados limites ecológicos. Esta teoria tem como principal objetivo reformular os problemas económicos e definir novas metas.

Kate Raworth defende que o desafio da humanidade é atender às necessidades de todos dentro das possibilidades do planeta. A Economia Donut assenta em três grandes pilares refletidos nas diferentes zonas do esquema proposto.

Por um lado, na zona mais interna, encontram-se os 12 aspetos sociais delineados com base nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. São eles o trabalho, a paz, a justiça, a igualdade social e de género, a habitação, a alimentação, a saúde, a educação, o acesso a água e energia.

No extremo oposto, na zona mais exterior do esquema, situam-se os nove limites que a humanidade deve travar, como as alterações climáticas, a acidificação dos oceanos, a poluição do ar, química, por nitrogénio e por fósforo, a destruição da camada de ozono, o excesso de utilização de água doce, a perda de biodiversidade e a conversão de espaços verdes em áreas de atividade económica, como construções ou cultivos.

O terceiro pilar, a que a autora chamou “sweet spot”, é o local compreendido entre ambas as zonas. É considerado o espaço “ambientalmente seguro”, “socialmente justo” e “regenerativo e distributivo”, onde a humanidade pode prosperar. 

Quando colocada em esquema, a teoria revela-se semelhante a um donut, ganhando por isso o nome.

Entre teorias e planos de ações, emerge uma certeza: a sustentabilidade está no horizonte das preocupações de indivíduos e organizações. A mudança está a acontecer.