Carta ao Leitor – Carolina Bianchi

Caro(a) Leitor(a) da RECICLA,

Em 1991, em São Paulo, nascia esta ninja da compostagem que vos escreve, e muito longa foi a jornada até chegar à criação da Mudatuga, em 2020, em Coimbra.

O espírito de pequena ativista ambiental nasceu muito cedo: quando era pequenina, não poderia ver um bicho ou planta que logo o levava para casa (para pesadelo da minha mãe). Aos nove anos, cheguei a ter uma criação de bichos-da-seda no meu quarto, porque os quis salvar de uma feira de ciências da escola. A minha infância foi marcada pelo quintal da minha avó Lourdes, na Vila Lepoldina, em São Paulo, onde pude estar em contacto com a terra todos os fins de semana.

O que eu não imaginava, naquela época, é que ser amante da natureza poderia ser mais do que apenas um sonho de criança, poderia ser uma linha condutora que me levaria aos mais loucos sítios do mundo e a conhecer pessoas extraordinárias.

Aos 18 anos, escolhi a Biologia como profissão, e muitas coisas aconteceram naqueles cinco anos na Universidade de São Paulo: salvei (ou roubei?) pintaínhos a laboratórios de Embriologia (oops!), tornei-me vegana em 2012; apaixonei-me pela educação ambiental aquando da visita de crianças ao nosso departamento; descobri o ativismo estudantil e comecei a fazer compostagem. Na altura, era apenas uma moda entre os “hipsters” dos cursos ligados à sustentabilidade, e ainda em 2010 comprei o meu primeiro vermicompostor com a pequena bolsa de iniciação científica que tinha na universidade.

O resto é história. A gestão de resíduos foi algo que levei muito a sério durante a vida de jovem adulta, e a memória do meu computador foi sendo preenchida com fotos de resíduos a serem queimados ou descartados incorretamente, do interior de São Paulo ao interior da Palestina. Vi que o mundo não tinha a mesma visão que eu em relação à circularidade dos recursos naturais.

Em 2017, quando me mudei para Portugal, vivi com mais três raparigas que não faziam sequer a separação do plástico, cá em Coimbra. Depois, fui viver para uma casa com jardim em que disseram que havia compostagem e, para a minha desilusão, estavam a fazer uma pilha de resíduos orgânicos mal cheirosa, que era divertida apenas para as moscas que lá encontraram o seu oásis no meio do betão da cidade.

E foi a partir da indignação crescente de todas estas experiências que nasceu a Mudatuga. Se escolhi Portugal como novo lar, como país para viver uma vida mais tranquila, como é que posso contribuir para melhorá-lo a partir daquilo que sei fazer melhor?

O caminho da educação para a compostagem surgiu de forma natural para mim. Nada como iniciar esse percurso com uma provocação e um call for action: muda, tuga! Tenho fé de que posso ajudar a transformar as nossas cidades num exemplo mundial de gestão de resíduos orgânicos.

E tu, achas que podes também estar neste movimento? Agarra o desafio e transforma-te também em ninja da compostagem!

Carolina Bianchi
Bióloga e educadora ambiental. Em 2020 criou o projeto Mudatuga, hoje uma microempresa. É responsável pela startup educacional que está a transformar pessoas de todo o país em ninjas da compostagem.