Caro(a) Leitor(a) da Recicla
A viagem por estes últimos 20 anos tem sido desafiante.
Claro que acredito que há muita coisa por fazer e que a melhoria continua deverá ser sempre o objetivo de qualquer processo. Contudo, quando me lembro de, no meio de uma lixeira na zona da Margem Sul, ficar perplexa com aquele cenário de horror e perceber que era preciso agir, assumir um papel participativo na sociedade civil e contribuir no sentido de mudar aquela realidade, vejo o longo caminho que fizemos.
Apesar de ter crescido na cidade, logo cedo ganhei o gosto por contemplar a natureza, as pequenas coisas e a maravilha da sua diversidade. Na adolescência comecei por colaborar como vigilante de uma zona de Sapal e essa responsabilidade de cuidar deste habitat marcou-me para o resto da vida. Talvez sejam estas vivências que me levem a ter dificuldade em aceitar que outros(as) desvalorizem o importantíssimo papel de quem trabalha na gestão dos resíduos.
Separar o lixo é mais do que um capricho ou moda, é um dever de cidadania, é um gesto de respeito pela Humanidade, pelo Planeta, e para mim este é o “R” mais importante de todos – “Respeito”.
Não me preocupa que nome lhe chamem – “lixo”, “Resíduo” ou “Recurso”, desde que na prática aceitem que se tratam de materiais, que estes podem sempre ter outra vida, outros donos, e é por isso que, respeitando os ciclos biológicos, devemos sempre recordar e aceitar que na natureza nada se perde, tudo se transforma. Aquela embalagem que temos lá em casa, na escola ou no trabalho pode ser reutilizada para guardar compotas ou botões, para fazer atividades escolares ou transformar em decorações temáticas ou, caso ninguém a queira, para colocar no ecoponto certo.
Se dúvidas existirem sobre o contentor certo para cada resíduo a resposta está a dois cliques de surgir, através da aplicação WasteApp, disponível em IOS e Android, que lhe vai ajudar a separar mais e melhor. Este é um compromisso intergeracional. Os nossos avós e pais sabem como viver com menos materiais, e as gerações mais novas sabem como separar de acordo com as cores de cada ecoponto. Cabe à geração que se encontra no intervalo entre os que acabaram de chegar a este mundo e os que já cá andam há uns anos, aceitar que este é o papel das suas vidas – cuidar da sua casa, uma casa comum a que damos o nome de Planeta Terra, porque é a única na qual poderemos viver.
Carmen Lima,
Coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus