Conhece aquela velha norma do criar, usar e deitar fora? Esqueça. O futuro tem como base a economia circular, um modelo no qual os materiais ganham sempre uma nova vida

Há uns anos, era escassa a oferta de snacks saudáveis no mercado. Filipe Simões decidiu avançar com uma proposta livre de açúcares e gorduras, ao mesmo que tempo que apostava numa produção sustentável. Foi assim que nasceu a Frueat, uma empresa que aproveita a fruta que, por não ter o aspeto ou o peso standard exigida pelos supermercados, acabaria por nunca ser vendida. Sem recurso a químicos, essa fruta é desidratada e vendida já embalada. Já as cascas e caroços que sobram desse processo são reaproveitados por agricultores para alimentação de animais e fertilização dos solos nos quais, mais tarde, nascem novas árvores de fruto que servem de matéria-prima a mais snacks saudáveis.

Este é um exemplo puro de economia circular, ou seja, um caso no qual o produto final volta a entrar no mercado como matéria-prima. É como um ciclo, no qual não há início nem fim porque a transformação é constante. Felizmente, o exemplo da Frueat não é único e Portugal começa agora a ser até exemplo a nível internacional.

É o caso da Sonae, por exemplo, que em 2016 começou a aproveitar os resíduos orgânicos do seu hipermercado de Gaia para produzir eletricidade para consumo na loja. Ainda está em fase piloto, mas já há números para este projeto: 26 mil euros poupados. Na prática, os restos de fruta, legumes e outros alimentos são decompostos por ação de enzimas e bactérias, produzindo um biogás que é utilizado na produção de energia. E ainda na lógica de fazer algo de novo com o desperdício, a Sonae avançou também com a transformação da fruta e legumes que iriam para o lixo por perderem valor comercial em compotas e chutneys de marca própria. Criou também um bolo especial – o Panana – feito com  bananas que deixaram de ter valor comercial por estarem demasiado maduras.

Todos estes exemplos deitam por terra aquela ideia da economia tradicional baseada no criar, usar e deitar fora. Neste caso, tudo se transforma. Falamos aqui de fruta que pode transformar-se em bolos, compotas, snacks saudáveis e até energia, mas podemos facilmente chegar a casos de reaproveitamento de livros ou ainda de produtos de bebé. É o caso da Book in Loop e da BabyLoop, respetivamente. A primeira dedica-se a dar nova vida a manuais escolares e a segunda, que começou este ano, reúne numa plataforma a possibilidade de comprar e vender objetos ligados à puericultura, como berços, cadeiras e ovos.

Mais do que uma moda ou estratégia de empreendedorismo, a economia circular é uma necessidade, tendo em conta a tendência de aumento populacional, crescimento da procura e aumento da pressão sobre os recursos naturais. Já temos a Coca-Cola que incopora vidro reciclado nas suas garrafas e as de plástico que dão origem a novas embalagens, a Apple que recolhe em loja aparelhos antigos para que as peças sejam reaproveitadas para novos equipamentos ou a Zouri a fazer sandálias a partir de garrafas de plástico.

Todos estes exemplos provam que a economia circular, além de uma aposta a nível de sustentabilidade ambiental, é também um investimento de futuro. Feitas as contas, a economia circular pode gerar poupanças líquidas de cerca de 600 mil milhões de euros às empresas da União Europeia (cerca de 8% do total do seu volume de negócios anual).