Estão a nascer objetos decorativos feitos com desperdícios e resíduos de pesca. São giros para ter em casa e para dar um ar mais oceânico ao seu cantinho preferido. A autora, Beatriz Rosales, dedica-se à produção destas peças de arte nos seus tempos livres, fazendo do upcycling uma missão e o seu passatempo preferido.

Malha é o nome do projeto que dá mais cor aos tempos livres de Beatriz Rosales. Tudo começou quando há 13 anos deu os primeiros passos no croché. Desta arte, passou para pequenas peças de decoração, mas a artista precisava de um propósito para criar.

“A Malha surge dessa vontade que senti, de criar, estimular a minha criatividade e devolver algo à minha comunidade e a todos em geral”, começa por dizer. Para Beatriz Rosales, fazer estas peças é mais do que um passatempo, “é uma forma de estar, uma alternativa sustentável”.

O que torna este projeto sustentável?

Para criar estas peças decorativas, Beatriz recorre aos resíduos que recolhe e encontra nas praias e no mar. Faz também parte da iniciativa Mergulha por Cascais, que organiza com regularidade limpezas de praia e subaquáticas, onde pescadores, mergulhadores e voluntários se juntam para retirar não só resíduos do areal, como também do fundo do mar.

É sobre o mote “o que é do mar devolve-se ao mar e o que não é deve regressar a terra” que a artista procura colocar cada objeto no seu devido sítio e o que já não têm função, quando pode, reaproveita para criar as suas peças.

“Muito lixo apanhado nas praias, nos areais e muitas toneladas de lixo no fundo do mar, algumas coisas consigo aproveitar para as minhas peças, mas outras não”, confessa a artista.

Lixo recolhido do mar

Que objetos recolhidos do mar são estes?

Beatriz utiliza como matéria-prima armadilhas de pesca obsoletas, geralmente feitas em ferro e plástico. A estes objetos junta o croché e é a partir de aí que surgem os candeeiros e outras peças de decoração.

A estas estruturas juntam-se também outros complementos. É o caso das bóias, dos cabos e das chumbadas, os pesos usados com as iscas e anzóis para melhorar a capacidade de ancoragem da linha e aumentar o distanciamento a que é lançada.

“Ao todo já tiveram uma nova vida três covos, mais de 20 alcatruzes, mais de 100 objetos, como bóias grandes, médias e pequenas, e metros de cabo que já perderam a conta”, enumera Beatriz.

Candelabro

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Qual a peça mais sustentável de todas?

Todas são provenientes de materiais reaproveitados, todas prolongam a vida de objetos de outra forma obsoletos, mas o Covo é como diz a autora “a peça estrela da Malha”.

É uma estrutura de ferro com interior de plástico que é possível de reutilizar a 100%. O ferro dá origem à estrutura do candeeiro “Covo”, a malha plástica é utilizada e distribuída para outras peças, como o candeeiro “Coral”, o “Covo cabo”, a “Boca do covo”, para os quadros desenhados a tinta de choco e ainda para a Jarra. As amarras são deixadas na peça pelo seu simbolismo.

Covo

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Tudo tem a sua história

Cada peça é única e feita apenas por duas mãos, as de Beatriz Rosales. Há peças reaproveitadas na sua totalidade e as características de uma vida anterior são mantidas.

“Os nós dos cabos eu deixo. As braças eu deixo intactas. São vida e identidade. Fazem parte das noites passadas na escuridão do mar, da história da minha vila e da vida dos pescadores”, refere a artista.

Detalhe de boias

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As peças são, assim, personalizadas uma a uma e, quando são entregues, Beatriz faz questão de escrever uma nota à mão referindo o que a inspirou e a motivou.

“A Malha traz consigo não só a tradição, mas também a sua missão de contribuir para o equilíbrio dos ecossistemas e para a sustentabilidade do mundo subaquático, por recuperar, reciclar e reutilizar artes de pesca obsoletas evitando que sejam desperdiçadas ou indesejadamente lançadas ao mar”.