Em Portugal, a cada minuto, 7 mil pontas de cigarro são atiradas para o chão. Depois de anos de maus hábitos, o país acorda para a necessidade de tratar estes resíduos de uma forma mais digna

Fumar um cigarro e, à falta de cinzeiro, atirar a ponta para o chão e esperar que o vento a apague. Este gesto é tão automático que, quem o faz, nem pensa nas consequências que desse ato advêm.

Mas vejamos, as pontas de cigarro podem demorar até 10 anos a decomporem-se e durante esse processo libertam mais de 4 mil substâncias químicas que acabam por contaminar solos e águas. E se pensarmos que as estimativas apontam para que, em Portugal, sejam atiradas para o chão 7 mil beatas de cigarro a cada minuto, não admira que a busca para a solução seja uma urgência.

A lei que aprova medidas para recolha e tratamento dos resíduos de tabaco e pune com coimas entre 25 e 250 euros quem atirar beatas para a via pública foi publicada em Diário da República e está em vigor desde 4 de setembro. As pontas de cigarros, charutos ou outros cigarros contendo produtos de tabaco passam, assim, a ser equiparados a resíduos sólidos urbanos e, por isso, passa a ser proibido descartá-los. Os estabelecimentos ficam também encarregues de proceder à limpeza dos resíduos produzidos nas áreas de ocupação comercial e numa zona de afluência num raio de cinco metros. Além disso, o diploma institui ainda que os estabelecimentos comerciais, aqueles onde decorram atividades lúdicas, bem como todos os edifícios onde é proibido fumar deverão dispor de cinzeiros, sob pena de enfrentarem uma coima mínima de 250 euros e máxima de 1500.

Em Lisboa, esse trabalho começou a ser feito pela Junta de Freguesia de Santo António que distribuiu um total de 200 cinzeiros de parede pela freguesia no âmbito de uma campanha de sensibilização ambiental a que deram o nome de “Porque o mar começa aqui, bem no coração de Lisboa”.

Mas as iniciativas multiplicam-se pelo país. Joana Costa, de 19 anos, criou o movimento Waste4Coffee para que as pessoas possam trocar plástico por um café. Começou o projeto no Wind Surf Café, em Carcavelos, e agora já são às dezenas os cafés, bares e restaurantes à beira mar nos quais qualquer pessoa pode entregar um saco de lixo apanhado na praia e ter, em troca, um café.

Em Braga, entre 4 e 24 de agosto, foram organizadas recolhas de beatas nas ruas e, no total, foram apanhadas mais de 50 mil pontas de cigarro, por um total de 50 pessoas. A iniciativa é do grupo Braga Para Todos, que tem denunciado vários problemas ambientais na cidade, sendo o combate às beatas um dos principais.

Também em Aveiro, uma ação voluntária organizada pela Escola Secundária José Estêvão desafiou toda a comunidade escolar a ir para as ruas durante uma hora para apanhar o máximo de beatas do chão. Ao todo, cerca de 600 alunos, professores e voluntários, apanharam 87 299 beatas.

Há também quem tenha criado um cinzeiro portátil para evitar que mais pontas de cigarro acabem no chão. A ideia partiu de David Figueira, com o Biataki, um recipiente feito de cana de bambu e com rolha de cortiça, pensado para manter as beatas compartimentadas.

Lá fora, o projeto No More Butts, com sede no Reino Unido, criou um programa de reciclagem de beatas e de outros materiais relacionados com a indústria do tabaco. Tudo isso é derretido e misturado com plásticos duros que podem ser transformados em produtos industriais como, por exemplo, paletes de plástico.