Recorda-se de lhe termos proposto que pensasse fora da caixa? Foi o que a Inês Sousa fez. E não é que a sua ideia ganhou o passatempo criado pelo Continente em parceria com a Sociedade Ponto Verde?

A estudante de Economia e Gestão do Ambiente obteve 699 votos do público depois de a sua sugestão ter sido considerada uma das 10 melhores para reduzir a utilização do plástico nos artigos de marca própria Continente. A sua ideia Fora da Caixa consiste na substituição das embalagens de plástico das frutas e legumes por papel seda reutilizável e reciclável. À conversa com a RECICLA, partilhou o que a motivou a participar e contou tudo sobre a sua proposta.

O que a levou a candidatar-se ao passatempo Fora da Caixa do Continente?

Ando sempre à procura de coisas para fazer e atividades em que possa participar e ser parte ativa. Costumo seguir algumas páginas no Instagram de ativistas e influenciadores ambientais e vi que o autor de uma delas tinha participado no passatempo e recomendava que outras pessoas o fizessem. Achei a ideia engraçada, não conhecia nem sabia que havia marcas a fazer estes apelos sustentáveis e a pedirem aos consumidores para participarem nas suas estratégias de sustentabilidade. Além disso, como tinha a ver com aquilo que estudei e estou a estudar – sou licenciada em Marketing e agora estou a tirar o mestrado em Economia e Gestão do Ambiente –, pareceu-me que fazia todo o sentido.

Em que é que consiste a sua ideia?

Quando li a proposta do passatempo, que tinha como objetivo diminuir a quantidade de plástico nos produtos Continente, o que me veio logo à ideia foi o corredor das frutas e dos legumes, onde é possível encontrar, por exemplo, dois bocadinhos de alho francês embalados em plástico e com uma cuvete de esferovite por baixo. É completamente desnecessário. É tão pouca quantidade de legume para tanta quantidade de plástico que me interroguei: “O que é que pode embrulhar esse ou outro legume que é tão pouco e que não seja tão prejudicial?”. Andei a pesquisar que embalagens e materiais poderiam ser mais sustentáveis e que papéis poderiam substituir a película e ser recicláveis. Cheguei à conclusão de que a melhor solução seria o papel de seda, que é reciclável e pode ser reutilizado, se não estiver sujo.

O que sugeri foi que o Continente disponibilizasse, por exemplo, vários tamanhos de papel de seda, podendo ser o próprio consumidor ou um funcionário a cortar e a embrulhar os legumes e frutas como se fossem presentes. Isto funcionaria, sobretudo, em legumes e frutas em pequenas quantidades.

Fora da caixa - passatempo Continente

Apesar de ainda não estar implementada, qual é a sensação de saber que a sua ideia vai ser posta em prática?

Fico muito contente porque, primeiro, participei no mesmo passatempo em que outros ativistas e pessoas com maior experiência na área também participaram e a minha ideia foi a escolhida. Depois, este tema vai ao encontro daquilo que eu estudo e daquilo que gostava de fazer no futuro: implementar ideias sustentáveis e ajudar a que as empresas tenham um menor impacto no ambiente.

E, já que falamos em medidas a aplicar nas compras, como são as suas idas ao supermercado?

Eu ainda não faço as minhas compras de casa, porque vivo com os meus pais. Mas, tento sempre encaminhá-los para escolhas mais sustentáveis. Infelizmente, e penso que isto ainda está incutido nas famílias portuguesas, a utilização de plástico em excesso é uma coisa normal. Os meus pais não acham normal utilizar os sacos de rede ou até não utilizar sacos de todo, uma vez que a fruta por si só tem uma casca protetora que dispensa ser envolvida em embalagem. Ainda há muita gente que acredita que tem mesmo de transportar a fruta ou os legumes em sacos de plástico ultraleves.

Aquilo que tento fazer é ajudá-los a reduzir nesse tipo de plásticos. Quando vou com eles, tento adotar as melhores práticas possíveis: uso sacos reutilizáveis; vejo se os produtos são testados em animais ou não; procuro perceber qual a quantidade de embalagens em que são acondicionados e vejo sempre se são ou não recicláveis.

Antes de ser vencedora deste passatempo, os problemas ambientais já eram preocupações suas? O que fazia e faz para combater estes problemas?

Sim, até porque escolhi na minha área de formação envergar por estas questões e tentar combater no mundo empresarial este tipo de problemáticas. Mas, mesmo a nível pessoal, também tento adotar algumas medidas em casa para eu própria ajudar o planeta. Desde sempre que me lembro de me preocupar com o ambiente e tentar fazer alguma coisa para ajudar.

Costuma inspirar os outros a ter atitudes mais amigas do planeta?

Sim, bastante. Acho que até sou um bocadinho chata nesse aspeto. Ainda para mais agora que comecei a estudar este tema no mestrado e que estou rodeada de outras pessoas preocupadas com ambiente, mais chata me sinto, sobretudo junto dos meus pais, da minha irmã e do meu namorado, que não adotava mesmo práticas sustentáveis.

Procuro influenciar e explicar que as pessoas estão a fazer as coisas de uma forma, mas, se fizessem de outra, seria uma melhor opção a nível ambiental. No fundo, chamo a atenção para determinados aspetos e mostro qual é a melhor solução para o planeta. Sinto que já estão a ficar mais preocupados e a seguir melhores hábitos que não adotariam se não me tivessem a chatear…

E a si quem a inspira a fazer mais e melhor?

Penso que quem mais me inspira são os meus colegas e professores. No fundo, sinto-me inspirada por contactar com pessoas que pensam da mesma forma que eu.

Qual foi a primeira coisa que aprendeu a fazer em prol do planeta e quem a ensinou?

A primeira coisa foi, sem dúvida, reciclar. Aprendi na escola e mesmo os meus pais sempre reciclaram.

Qual foi a última coisa que aprendeu sobre a sustentabilidade?

Essa pergunta dá que pensar, talvez algo sobre eficiência energética na faculdade.

Quais as três atividades sustentáveis que não dispensa no dia a dia?

Reciclar tudo, reutilizar papéis que estão pouco usados antes de os reciclar e poupar água.

Qual a ação mais ecológica que já fez ou em que já participou?

Não é que eu não me tenha envolvido em mais atividades, mas penso que a participação neste passatempo do Continente é a que vai ter mais impacto. Esta foi, a meu ver, uma grande ideia e acho que é importante as marcas chegarem ao consumidor e trabalharem em conjunto em busca de soluções mais ecológicas. Todas as marcas deviam começar a desenvolver iniciativas deste género.