A autora do blogue “Ana, Go Slowly” e fundadora do movimento Lixo Zero Portugal assumiu o papel principal na luta contra a produção desenfreada de resíduos. Recicla tudo o que pode, faz compostagem, não sai de casa sem o seu kit de talheres e há mais de um ano que o seu lixo cabe num pequeno frasco de vidro.

O que é que mudou no seu dia a dia para ser mais sustentável?
O primeiro passo foi olhar para o meu caixote do lixo e ver o que tinha lá — maioritariamente restos de comida, embalagens de plástico, toalhas e lenços de papel — e encontrar uma forma de acabar com esses resíduos. Passei a entregar as sobras a um casal amigo, a quem compro cabazes de legumes, para que façam compostagem. Já os lenços de papel, troquei-os pelos de pano e para substituir os toalhetes, cortei t-shirts velhas, que molho com água e sabão.
Comecei a comprar a granel, mas houve coisas que deixei mesmo de comprar. É o caso das bolachas, que passei a fazer em casa, ou do tofu e seitan, que como apenas em restaurantes.

Hoje em dia, é mesmo possível viver sem se produzirem resíduos?
O nome do movimento Lixo Zero Portugal é uma meta, mas eu gosto dele exatamente por isso. É impossível viver sem lixo, até porque basta uma ida à casa de banho para estarmos a poluir, mas não deixa de ser motivador pensar que um dia possa ser possível.

O que faz ao pouco que produz?
Tudo o que é reciclável vai para o mesmo saco. Como é tão pouco, junto tudo num e, no ecoponto, faço a separação. Os restos de comida vão para compostagem e tudo o resto cabe num frasquinho, literalmente. Desde julho de 2017 que comecei a pôr num frasco tudo o que não consigo reciclar e ainda não o consegui encher. Aliás, até já o esvaziei algumas vezes, porque uma amiga precisou das pulseiras de festivais e das etiquetas de roupa que tinha lá para um projeto de reaproveitamento de material para produzir roupa.

Para conseguir isso, tem de dizer não muitas vezes?
Dizer não é a minha principal arma, mas a verdade é que é poderosa. Há muito tempo que recuso tudo o que me dão e que sei que não me vai ser útil, sejam amostras, brindes ou aquelas capas com canetas e blocos que costumam dar nos congressos. Já cheguei até a dizer que era alérgica ao plástico, para que levassem a sério as minhas recusas.

O que aconselha a quem quer começar a ter uma vida mais sustentável?
Recusar tudo o que é descartável é o primeiro passo. Lanço até o desafio: durante uma semana, pôr de lado todo o descartável, seja o copo do café, a palhinha do sumo ou o saco de plástico para comprar fruta. No final, a quantidade de resíduos acumulados pode ser um gatilho para a mudança. Além disso, começar a dizer não. Mudar esse piloto automático de aceitar tudo só porque é de graça e começar a perguntar-se: “Será que preciso mesmo disto?”.

Três boas práticas das quais não abdica

  • Ser vegetariana. Há mais de 16 anos que não como carne nem peixe e, apesar de o ter começado a fazer por questões éticas e de saúde, a vertente ecológica hoje em dia fala mais alto
  • Reciclar tudo o que posso
  • Dizer não àquilo que não preciso.