Tânia Martins é arquiteta, criadora de conteúdos digitais e mãe de duas filhas, a quem procura passar todas as suas preocupações ambientais. Tanto na sua vida profissional como na pessoal, procura inspirar as pessoas a fazer e a escolher o melhor pelo planeta, de forma a proporcionar um ambiente melhor, não só dentro de casa como para o futuro.

De que forma é que a sustentabilidade se pode ligar à área da arquitetura e ao design de interiores?

A sustentabilidade pode ligar-se a esta área de várias formas, desde a otimização da planta, do desenho da casa; à organização do espaço, à escolha dos materiais que ajudem no conforto térmico e na eficiência energética da casa e que também tenham preocupações ambientais na sua produção. Por exemplo, que utilizem componentes reciclados ou recicláveis na sua produção, que tenham menos custos de transporte, que utilizem energias renováveis, menos recursos de água ou o seu reaproveitamento. Enfim, há aqui uma grande componente onde conseguimos ligar a sustentabilidade à arquitetura.

No que toca ao design interior, para mim, a melhor forma de tornar uma casa mais sustentável é com a grande frase do “menos é mais”, porque na realidade o ideal é termos poucas coisas e porque assim vamos consumir menos e passar menos tempo no dia a dia a organizar e a limpar. Depois, é termos preocupações naquilo que escolhemos ter, escolher com alguma consciência ambiental, dar prioridade aos materiais naturais, como as madeiras e utilizar plantas para decorar e que também ajudam no ambiente da casa.

É possível fazer obras e renovações de casas de forma sustentável?

Sim. Hoje em dia, há muita oferta no mercado e podemos fazer uma casa quase 100% sustentável. Aliás, as marcas, cada vez mais, têm esta preocupação de trazer soluções que sejam mais amigas do ambiente e a preocupação em integrar materiais naturais, que sejam provenientes de recursos que se regeneram com facilidade, de utilizar energias renováveis para a produção de materiais e de ter materiais que possam ser recicláveis. Acho que há cada vez mais esta preocupação e que as marcas ligadas à construção têm mais esta consciência.

Numa altura em que tantas pessoas passaram mais tempo nas suas casas e querem fazer delas um lugar melhor, quais são as dicas que se podem dar para melhorar os espaços não só esteticamente como também ecologicamente?

A primeira dica é ao nível do aquecimento, que é o nosso calcanhar de Aquiles, em Portugal, porque há muita deficiência na construção nesse sentido. Infelizmente, há uns anos não havia tanta preocupação e, por isso, as casas antigas são mesmo muito pouco eficientes. Quando se faz uma obra de remodelação, eu digo que é quase obrigatório, tentar tornar a nossa casa mais eficiente. Trocar umas janelas de vidro simples ou alumínio e madeira simples por umas melhores, de PVC, ou de alumínio com corte térmico e alumínio duplo. Casas que tenham humidades é tratar, recuperar as paredes e tentar implementar alguma solução que possa ajudar a retardar este aparecimento.

Ao remodelar uma casa, tornem-na numa casa respirável, isto é muito importante na renovação do ar e no nosso bem-estar e é uma grande preocupação que as pessoas deviam ter. Mesmo que se coloquem umas boas janelas é importante para a casa renovar o ar, o que também ajuda nas humidades.

Colocar um pavimento que seja mais confortável, por exemplo, a cerâmica é muito resistente e é muito boa para as zonas húmidas, mas pode tornar-se desconfortável e as nossas casas no inverno são muito frias e além do mais cria muita condensação num pavimento assim. Portanto, apostar num pavimento mais confortável, como um flutuante laminado ou um vinil. Eu acho que isto é o essencial.

Projeto de arquitetura construído em volta da árvores que já existia na casa

Na casa da Tânia além do ambiente decorativo, há também uma grande preocupação pelo planeta. O que faz no dia a dia para ter uma pegada carbónica mais leve?

O básico dos básicos é a reciclagem. Temos um compostor, para depois usarmos o composto na nossa estufa. Temos uma estufa pequenina, não para tirarmos proveito, mas para passarmos uma mensagem às nossas filhas e lhes ensinarmos a importância da terra e de como é de lá que vêm os alimentos. Tentamos usar o mínimo de embalagens descartáveis possíveis, como os sacos plásticos, procuramos comprar menos produtos processados e preferimos cada vez mais os naturais e os que sejam menos embalados. Temos também cuidado com a utilização da água, que tentamos reaproveitar sempre que é possível. Para mim, aquilo que mais me faz praticar sustentabilidade na minha casa é passar às minhas filhas esta mensagem, esta preocupação e esta consciência com o ambiente.  

Quais foram as primeiras lições lhes ensinou e como lhes introduz este tema?

Aquilo que me preocupa mais e aquilo que eu mais procuro trabalhar com elas é a questão do ser em vez do ter. Tento ao máximo que elas não deem importância a um determinado brinquedo, mas sim ao estar presente e estar com as pessoas; que elas tirem muito mais proveito em estar com os avós em vez de no brinquedo que os avós lhes irão trazer. Quero que elas valorizem as pequenas coisas, que seja muito mais interessante para elas explorarem a nossa estufa em vez de passar muito tempo a ver desenhos animados; que elas sejam incluídas ao máximo nas tarefas da família porque é sobretudo aí que lhes transmitimos as mensagens mais importantes, por exemplo “vamos lavar a loiça, mas temos de ter muito cuidado para não desperdiçar a água”, ou mesmo ajudarem-nos a reciclar e aprenderem onde se coloca cada tipo de embalagem.

Em sua casa, qual é o objeto ou a mobília que pode considerar a mais sustentável?

A casa de cartão das minhas filhas, porque foi feita com uma caixa de uma encomenda que eu transformei numa casinha de brincar.

Casa de cartão para as crianças brincarem

Qual é a divisão da casa que para si é a mais amiga do ambiente?

Eu diria que é a sala com cozinha, porque do ponto de vista do convívio familiar é onde passamos mais as nossas preocupações com o ambiente e onde ensinamos mais este tipo de coisas às nossas filhas.

Qual foi a última coisa que aprendeu sobre sustentabilidade?

Penso que tenha sido que existe um pavimento que é todo em cortiça, com aspeto de madeira e é português.

Além das suas filhas, já inspirou alguém a ser mais sustentável?

Sim. A nossa família mais próxima. Através do nosso exemplo e por verem as nossas filhas, acabaram por serem influenciados a adotar alguns gestos simples.