28, Maio 2020
Bordalo II: “É motivador poder comunicar um problema, usando o próprio problema”
Artur
Bordalo, mais conhecido pelo seu nome artístico, Bordalo II, é o autor de
inúmeras obras espalhadas por vários países, conhecidas como Big Trash Animals.
Recicla desde que se lembra, mas foi a partir de 2013 que começou a focar o seu
trabalho nos problemas de sustentabilidade que as sociedades de hoje enfrentam,
entre eles, a produção excessiva e o consumo exagerado.
Artur Bordalo, mais conhecido pelo seu nome artístico, Bordalo II, é o autor de inúmeras obras espalhadas por vários países, conhecidas como Big Trash Animals. Recicla desde que se lembra, mas foi a partir de 2013 que começou a focar o seu trabalho nos problemas de sustentabilidade que as sociedades de hoje enfrentam, entre eles, a produção excessiva e o consumo exagerado.
Quando começou a interessar-se mais pelo ambiente e pela sustentabilidade?
Já tinha começado a fazer experiências com lixo, explorando diferentes temáticas e composições, mas tratou-se de um percurso natural. Materializou-se com uma peça chamada “Big Crab”, que fiz em 2013 para o festival Walk&Talk, nos Açores, em Ponta Delgada. Acabou por se tornar um processo, um percurso natural. Com o meu trabalho, a ideia passa por representar uma imagem da natureza, neste caso os animais, construída com aquilo que os destrói — o lixo, a poluição, o desperdício e a contaminação.
Em casa recicla? Desde quando?
Claro. Desde que me lembro de existir, como fui filho de pais muito novos, tive a sorte de eles já trazerem essas preocupações.

Quais são os principais hábitos de sustentabilidade que adota no dia a dia?
Reduzir cada vez mais o consumo de carne e derivados de animais; ter em atenção onde são feitos os produtos, como são feitos, apesar de nos faltar ainda muita informação e muito controlo. Uso transportes públicos, evito o uso de plásticos descartáveis, embora ainda nos sejam “impostos”, na venda, em demasiados produtos. Estes são alguns dos que me lembro, assim de repente.
O que levou a centrar grande parte das suas produções artísticas na temática ambiental?
A minha responsabilidade, ao ter visibilidade, é enviar todas as mensagens para que as pessoas possam pensar sobre o que realmente interessa. Para mim, é fulcral ter uma palavra a dizer.
Já viajou por mais de 20 países; onde é que a poluição e o lixo o chocaram mais e porque?
Uma vez, chegámos ao México e não havia lixo para trabalhar. Foi difícil encontrar os materiais que usámos, porque não havia sistema de reciclagem, o lixo ia todo para um aterro, e, uma vez lá, era impossível separar fosse o que fosse. Toda a zona de praia por perto estava super contaminada. Viam-se as plataformas petrolíferas por todo o lado. Esta zona era uma zona das Caraíbas, com água quente e uma beleza natural fantástica, mas agora tudo destruído pela ganância.

Onde considera que os seus Big Trash Animals causaram mais impacto até agora?
Talvez nos países mais desenvolvidos seja mais óbvia a mensagem. Quando passamos para o panorama de países com mais pobreza e défice de educação, infelizmente, as prioridades não são a preservação ambiental, mas, sim, a subsistência do povo. Isto leva-nos à verdadeira questão, que é: sem o lado humano e social bem resolvido, é difícil ter as pessoas focadas no ambiente.
Qual é a sensação de poder fazer arte e, ao mesmo tempo, poder reaproveitar tanta quantidade de materiais, muitos deles considerados lixo?
É motivador por poder comunicar um problema, usando o próprio problema, e é também um desafio puxar pela criatividade e resolver uma obra de arte com objetos menos convencionais.