Foi a voz do Canal Panda durante vários anos, de Yoda, num dos filmes “Star Wars”, e de tantas outras personagens de animação. Quimbé é ator e dobrador português, mas também empresta a sua voz a causas ambientais, procurando transmitir o quão importante é cuidar do planeta. 

O Quimbé dá a voz a diversas personagens através das dobragens, mas também dá voz às questões ambientais. O que o fez associar-se a estas causas?
O que me fez realmente dar voz a estas causas foi a preocupação, o começar a ver determinadas coisas que me desagradavam e, sobretudo, a falta de preservação do nosso planeta. Fui escoteiro muitos anos e sou um amante da natureza e acho que, às vezes, pequenas coisas podem fazer a diferença.

O que faz falta para uma mudança verde?
O que faz falta é a mentalidade, tanto dos governantes, como das pessoas. As pessoas têm de se mentalizar que só temos um planeta, que não há planeta B e que, dentro deste planeta em que vivemos, temos animais que coabitam connosco e temos de nos preocupar, porque se dermos cabo da natureza estamos a dar cabo de nós próprios. Portanto, é preciso uma mudança por parte das pessoas e dos governantes em relação a coisas, como a reciclagem, por exemplo. É preciso mudar e começar a ter hábitos diferentes.

E, na sua própria voz, gostava de deixar uma mensagem sobre este tema?
Basicamente, a minha mensagem sobre este tema é: as pessoas têm de deixar de pensar só no seu umbigo. É preciso pensar em tudo o que nos rodeia e ver que isso faz parte da natureza. E é engraçado ver que, com este confinamento, a poluição diminuiu, começaram a ter-se outros hábitos completamente diferentes. Isto faz-nos pensar que as pessoas têm tudo como certo e nada é garantido nesta vida; de repente, estamos todos fechados em casa, mas a natureza agradece imenso o que está a acontecer.

O que o fez despertar para as problemáticas ambientais e quando é que isso aconteceu?
Começou quando eu era escoteiro, tive sempre estes problemas ambientais em vista. Depois, acentuou-se quando nasceram as crianças. Nessa altura, começas a querer deixar um legado, passar a mensagem de que não devem estragar este planeta. Há diversos hábitos que temos de incutir logo aos miúdos, como, ao lavar os dentes ou tomar banho, evitar gastar muita água, não deixar as luzes acesas, evitar os desperdícios, fazer a reciclagem. Temos um pilhão, temos tudo separado, as lâmpadas são todas LED. Em termos de desperdício alimentar, cá em casa, descascamos uma tangerina e a casca não vai para o lixo comum; se eu tivesse uma vivenda, fazíamos compostagem com este tipo de resíduos, mas, como não temos, basicamente o que procuramos fazer, por exemplo, com as cascas, é chás, água aromatizada. Portanto, temos essas preocupações.

O que faz em concreto para não “perder a natureza”?
O que eu faço é levar os miúdos a passear para perceberem o quão bela é a natureza e que, às vezes, é triste, quando chegamos às praias, e aquilo está cheio de plásticos, de tampas e de garrafas. Eles apercebem-se de problemas como os lixos nas praias, nas florestas e o quão importante é manter a natureza limpa. Como sempre fui uma pessoa de “outdoor”, adoro andar de bicicleta, de canoa, é fundamental que os meus filhos tenham essa perceção, para perceberem que podem fazer a diferença.

A separação de embalagens para reciclagem faz parte desses hábitos?
Faz. Já há muitos anos. A reciclagem é obrigatória cá em casa. Temos uns caixotes enormes. E é giro para eles perceberem também, dentro da reciclagem, o que é que nós temos e que tipo de lixo acumulamos mais e, de facto, são as embalagens de plástico. As embalagens de plástico são horríveis, porque nós queremos comer uma coisinha e aquilo tem uma embalagem. Sempre que vamos às compras, tento levar os meus próprios sacos e trazer menos embalagens. Acho que devíamos mudar de facto estes hábitos e voltar ao papel, ou a coisas biodegradáveis, porque é bom, tanto para a carteira como para o ambiente.

Considera que a cultura, nas suas diversas manifestações, deve levar a palco as temáticas ambientais? Porquê?
Acho que sim. Aliás, não só cultura, acho que toda a gente deve ter uma preocupação com o ambiente, com o aquecimento global, com as espécies em vias de extinção. Toda a gente deve trazer a palco as questões ambientais e não pensarmos só que, de momento, não nos está a afetar.

É uma pessoa que inspira?
Não sei se inspiro ou deixo de inspirar. Desde que a nossa consciência nos deixe tranquilos e achemos que, de facto, este é o caminho certo, todos devemos passar a mensagem e inspirar as pessoas a ter estes comportamentos. Porque se nós não quisermos saber, se agirmos numa de “as outras pessoas que façam, eu não faço”; se todos pensarmos assim nunca vamos por um caminho certo. Penso que esta questão do confinamento veio trazer uma maior preocupação ambiental e que isso, de facto, é importante. Amar o próximo, respeitar o ambiente e a natureza é fundamental, porque no dia em que nós acabarmos com a natureza a natureza acaba connosco e isto é um ciclo a que não se consegue fugir. Se inspiro ou não inspiro não sei, desde que ajude uma pessoa a mudar os seus hábitos para mim já é mais do que suficiente.