É ativista desde criança e ao longo da vida viu diversas iniciativas ambientais ganharem força. Passou pela Quercus, ajudou a fundar a ZERO, associação de que é presidente. Francisco Ferreira leva uma vida sustentável e procura dar um “contributo diário para uma economia mais circular”.  

Desde criança que luta pela proteção do ambiente. Como surgiu este interesse?
Foi por razões familiares e por razões também relacionadas com o local em que nasci e o tipo de atividades que tive nessa altura como criança. Em Setúbal, felizmente, temos duas áreas naturais muito importantes, a Arrábida e o Estuário do Sado, e isso permite-nos ganhar alguma sensibilidade para a importância da conservação da natureza e do ambiente. Foi através de alguns contactos com estudantes mais velhos, que já estavam a organizar-se para promover atividades ambientais – a classificação do Estuário do Sado como reserva natural e a preservação do centro urbano de Setúbal –, que acabei por começar a trabalhar nesta área.

Desde que se tornou um ativista pelo ambiente, qual foi a ação que mais o marcou e porquê?
Não sei. Por acaso, nunca pensei nisso. Temos tido várias derrotas, mas também temos tido muitas vitórias. Há muitas políticas que têm vindo a ser implementadas e que têm resultado desses apelos das associações de ambiente em que eu me insiro, por exemplo, o fim das centrais a carvão, o roteiro para a naturalidade carbónica. Mas a primeira grande ação que foi um sucesso, talvez essa seja das mais marcantes, foi a da criação da Reserva Natural do Estuário do Sado, em 1981, eu tinha 15 anos. Outra em que estive diretamente envolvido foi a retirada das construções clandestinas na zona do Portinho da Arrábida. E depois seguiram-se muitas outras desde a criação do Parque Natural do Tejo Internacional, até, mais recentemente, esta trajetória que Portugal tem definido para a neutralidade carbónica. 

O que faz para tornar o seu dia a dia mais sustentável?
Há um conjunto de boas práticas que se procura implementar. Por exemplo, a deslocação que eu faço para a faculdade: apesar de eu viver em Palmela e, se calhar, ser mais fácil ir de carro no dia a dia, cá em casa temos o passe de família e utilizamos o transporte publico. Em Lisboa, uso também o sistema de bicicletas. A mobilidade é um dos aspetos mais cruciais em termos de impacto de emissões de poluentes. Depois, em casa, temos cuidados nas compras, vamos ao mercado de Palmela por serem mais locais e também procuramos evitar ao máximo o desperdício. Em termos de energia, a casa onde vivemos tem painéis fotovoltaicos, tem água quente solar, tem cuidados de isolamento. Procuramos restringir bastante os consumos de energia e água. Portanto, eu diria até que, quer em casa, quer nas deslocações, há um esforço grande. Na alimentação também, na redução do consumo de carne, apesar de na família ninguém ser vegetariano.

Faz reciclagem?
Fazemos a recolha seletiva de tudo o que é possível, desde as embalagens até aos medicamentos fora da validade e não consumidos, que depois entregamos nas farmácias.       

Que importância atribui à reciclagem e ao seu contributo para o ambiente?
Não nos podemos nunca esquecer de que a reciclagem é o terceiro R e é absolutamente fundamental. Na recolha seletiva, nós em casa separamos tudo o que é possível, porque é importante darmos uma segunda vida aos materiais face aos custos que eles têm, em termos de extração das matérias-primas e em termos de energia. Portanto, obviamente é algo que faz parte de um contributo diário para uma economia mais circular.

Acha que é possível chegarmos ao zero? (zero emissões, zero desperdício e zero consumo insustentável)
O próprio nome da ZERO vem dessa visão que nós gostaríamos de atingir. Eu diria que é extremamente complicado lá chegarmos, não diria que é impossível, mas, pelo menos, deve constituir a nossa visão. Estamos bem longe disso, por isso mesmo temos de ver como é que nos conseguimos aproximar rapidamente face às várias emergências que temos: climática, da biodiversidade, dos limites que estamos a ultrapassar em termos de pegada ecológica. Portanto, é crucial, num planeta com excesso de população, que nós consigamos intervir a esse nível.