O rio Minho está a ser palco de uma nova instalação artística. É da autoria de Acácio de Carvalho e quer mostrar como o incorreto descarte dos resíduos aumenta drasticamente a poluição dos rios e oceanos. Como surgiu, qual a mensagem e como foi feita esta instalação, a RECICLA esteve à conversa com o artista para saber todos os pormenores.

Como surge a ideia de criar esta instalação no rio?
Esta instalação insere-se no projeto “LowPlast – a arte de reduzir o plástico”, que é promovido pelo Aquamuseu de Cerveira e pelo Cerveira Vila das Artes, em parceria com a Associação Portuguesa do Lixo Marinho, a Fundação Bienal de Cerveira e a Fine Arts School de Baerum. O meu papel, enquanto artista plástico convidado, foi fazer uma instalação para chamar à atenção da grande problemática que são os plásticos de utilização única e os resíduos descartados de forma incorreta.
O motivo e o mote eram a reutilização e a “reciclagem” dos materiais. A ideia era chamar à atenção das pessoas para o desperdício, para os atentados contra a natureza, principalmente contra os oceanos.

Exatamente o que podemos observar no rio Minho?
A ideia foi criar umas meias esferas. Foram feitas 24, tantas quantas horas tem o dia. Tentei que elas formassem um conjunto que marca as horas e que representassem o facto de as pessoas fazerem tanto lixo que chegam a tapar aquela massa esférica que se encontra ali. Estas calotas têm quatro metros de diâmetros e a ideia era criar a noção de ilha, um arquipélago de resíduos que procura chamar a atenção das pessoas para esta problemática.
A instalação são umas estruturas criadas com ferro e redes de capoeira cobertas com desperdícios de plástico. Todas as ilhas juntas criaram um só objeto escultório e cenográfico. Quando criei a estrutura procurei que pudesse flutuar e ao mesmo tempo que tivesse uma volumetria que fosse visível.

Que materiais utilizou?
Recorri a materiais usados. Reutilizei materiais de cafés, restaurantes e de outros locais de Vila Nova de Cerveira. Utilizei sobretudo garrafas e garrafões e alguns outros resíduos, por exemplo, tubos plásticos e cintas plásticas. Visualmente funcionaram muito bem.
A instalação também tem luzes, interage com o ambiente e ganha uma leve iluminação para não interferir com o que está à volta. Esta iluminação também é ecológica, é alimentada por painéis solares que permitem chamar a atenção mesmo durante a noite, a instalação tem luz até às duas ou três da manhã.

making of

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Artista em processo de produção da instalação

Que mensagem este projeto procura transmitir?
O meu trabalho enquanto artista, foi escolher e criar um processo onde pudesse aproveitar os materiais recolhidos em Vila Nova de Cerveira. O que fiz foi recriar aquilo a que chamamos as ilhas de plástico.
Os artistas quando têm um projeto querem criar algo de diferente, algo que possa chamar à atenção de determinada mensagem. Isto é o primeiro passo, depois vem a interpretação. Neste caso, o objetivo é as pessoas olharem e dizerem ‘como é que é possível todo este lixo passar nos nossos rios, nos nossos oceanos?’.
A ideia é informar e despertar para estas problemáticas. De facto, a mensagem que quero passar é que estamos a desperdiçar imensos materiais, os resíduos tornam-se extremamente poluentes quando não são descartados nos ecopontos e estão a matar a flora e a fauna marinhas.

Já tinha realizado trabalhos relacionados com esta temática antes?
Não exatamente. Já utilizei muito a “reciclagem” de materiais. Por exemplo em 2018, também em Cerveira, fiz uma instalação no Castelo com tubos de plástico, também para chamar a atenção do excesso de uso. No entanto, o objetivo não era esse, eu é que aproveitei.

Instalação artística Low Plastic

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Qual foi o trabalho “mais reciclado” que já fez?
Foi este. Há vários trabalhos onde recorro à reutilização de materiais, mas não são totalmente feitos de materiais reutilizados. Este foi o primeiro.

Se tivesse de fazer agora um outro projeto com materiais reutilizados o que faria?
Por acaso estou agora a trabalhar num no Aquamuseu de Cerveira. Um mural com 50 metros que vai ter esses materiais. Estou a pensar utilizar novamente os plásticos e reutilizar ferro que usei noutra instalação. A ver o que consigo fazer.