Helena Silva é fundadora do projeto Vintage for a Cause, que procura recuperar roupa em final de vida, assim como criar novas peças a partir de desperdício têxtil, ao mesmo tempo que ajuda mulheres mais velhas. Fique a conhecer as suas práticas sustentáveis, entre as quais está, claro, a reciclagem.

A Vintage for a Cause conta com quase dez anos. Qual é o balanço que faz do projeto em termos sociais e ambientais?
São [quase] dez anos de muita aprendizagem e muitos desafios, mas, sem dúvida que, pelo menos no que diz respeito ao impacto ambiental e social, valeu a pena. Claro que, comparativamente com a dimensão do problema, o impacto que o projeto tem é residual, como o de qualquer iniciativa pequenina. Mas, a verdade é que, mesmo com essa dimensão, desde essa altura, nós conseguimos desviar cerca de uma tonelada e meia de desperdício. Isso é muito. Além disso, do ponto de vista de inclusão de senhoras acima dos 50 anos, estamos nas mais de duas centenas, com o aumento também da rede de pessoas remuneradas. Portanto, o balanço ambiental e social é muito, muito positivo.

Qual é exatamente a causa que dá nome ao projeto?
O vintage não é necessariamente porque está ligado a roupa vintage, mas porque é algo intemporal, de qualidade e a causa é não só reduzir o desperdício têxtil, mas, acima de tudo, capacitar e incluir senhoras acima dos 50 anos fora da vida ativa.

E à Helena, o “verde” fica bem, sustentavelmente falando?
Eu nunca pensei nesses termos, ou seja, ao longo da minha vida, não fui fazendo alterações muito significativas no que diz respeito ao que são, hoje em dia, consideradas as práticas mais sustentáveis, porque cresci num ambiente em que os meus avós eram agricultores; eu tenho mais quatro irmãos, a minha mãe trabalhou como costureira e, portanto, eu cresci a dar uma importância muito relativa ao consumismo e habituámo-nos a partilhar e a trocar coisas.
Se o “verde” me fica bem? Talvez. Acho que o “verde” fica bem a todas as pessoas, quando é integrado de uma forma autêntica e não por moda. Eu também observo e apercebo-me de que há uma propensão muito grande para o “verde” passar a ser uma tendência, que se for encarada dessa formam nunca vai ser integrada. Portanto, mais do que ser “verde”, é importante ser sensato e isso pode passar por não comprar e por introduzir pequenos gestos que impliquem uma genuína mudança.

No dia a dia, quais são as ações mais ecológicas que pratica?
Há coisas que são mesmo, mesmo eficazes, como comprar em mercearias, porque a quantidade de plástico que chega a casa é muito menor. Depois, uma coisa que fui fazendo desde sempre e que agora está mais facilitado: evitar os descartáveis. Eu estou a falar da esponja para lavar a loiça, do champô sólido, ou champô para recarregar. O mesmo acontece com os discos desmaquilhantes, existe uma grande oferta dos laváveis e são bastante resistentes. Portanto, há pequenos gestos no nosso consumo diário, sobretudo na cozinha e na higiene pessoal, que, ao fim de um ano, têm um impacto gigantesco. Eu notei isso. E produzir menos lixo é espetacular, faz-me sentir melhor, dá-me menos trabalho. São pequenos gestos que estão ao alcance de todas as pessoas. Depois há outras coisas que eu acho que também devem encaixar no nosso estilo de vida, como os transportes públicos, usar menos o carro e o andar mais a pé.

Separa as embalagens para reciclagem? Desde quando?
Sim, mas já perdi a conta de há quanto tempo. Em casa, fazemos a separação do lixo e como os meus pais têm uma horta, desde antes de eu saber que se chamava compostagem que já separávamos os resíduos orgânicos.

Qual a importância que atribui à reciclagem?
A reciclagem é importante porque estamos a facilitar a integração de matérias-primas para novos produtos sem necessidade de estar a extrair novos recursos. O problema neste momento é a finitude dos recursos naturais. Acho que é bastante importante sob esse ponto de vista, mas também por causa dos hábitos de consumo que todos temos. Eu comecei a ter ainda mais consciência do impacto da reciclagem e da quantidade de lixo que uma pessoa faz quando vim estudar e morar sozinha. A reciclagem é também uma chamada de atenção e de consciência para a quantidade de lixo que cada pessoa produz.

Além do seu projeto tem ou utiliza algo que seja proveniente da reciclagem de materiais?
Eu tenho algumas coisas; por exemplo, a minha mochila foi feita a partir de pneus, o que a torna super resistente. Também tenho uma carteira que é feita com poliéster reciclado e plástico reciclado e vou o mais possível, dentro das minhas possibilidades, tendo coisas de material reciclado.