Inspirado pela ideia de que “na cozinha, nada se perde tudo se transforma”, o Chef Fábio Bernardino procura inspirar quem o segue nas redes sociais a cozinhar de forma mais saudável e mais sustentável, utilizando produtos locais e sazonais. Fora da cozinha, o Chef revelou à RECICLA uma outra paixão que também junta reaproveitamentos e transformações.

Além do desperdício alimentar, na sua opinião, que outras preocupações relacionadas com a sustentabilidade deve ter um chef?
A utilização de produtos nacionais, de proximidade e da época deve ser, também, uma das preocupações enquanto Chef. A compra de produtos locais e da época é importante não só em termos económicos, como sociais e ambientes. Atualmente sabemos que o consumo alimentar é uma das principais causas do aquecimento global e que a produção e o transporte dos alimentos são os principais contribuintes para esta emissão. Enquanto Chefs devemos ter especial atenção ao ato de compra e às receitas que produzimos. A fruta e hortícolas devem ser, preferencialmente, os da época, não só por serem mais económicos, mas também mais ricos do ponto de vista nutricional e com menor impacto ambiental. Além disso, o consumo de variedades locais pode ajudar a manter a biodiversidade destes alimentos, sem dúvida, ajudar à nossa economia nacional e ajudar os agricultores a manterem as suas produções. Todos podemos ser parte ativa do processo.

O saudável e o sustentável são dois ingredientes de uma receita fácil ou difícil de preparar? Porquê?
Diria que são dois ingredientes fáceis. Uma alimentação saudável pode ser sustentável e vice-versa. É tudo uma questão de combinar os ingredientes certos. Hoje em dia, olhamos para uma alimentação saudável como algo complicado, chato e com produtos que muitos podemos não ter acesso e que vêm de longe. Mas a verdade é que uma alimentação saudável pode ser uma tarefa fácil e descomplicada. Por exemplo, como cozinhar as hortícolas de maneira apelativa é sempre um desafio para a maioria das pessoas, mas com combinações entre ervas aromáticas, especiarias, pequenos detalhes conseguimos fazer a diferença.

Na hora de escolher os ingredientes, quais são as preocupações ambientais que devemos ter em conta?
Sem dúvida a preocupação com a nossa pegada ambiental. Comprar alimentos de proximidade, produção local e da época. Estamos não só a ajudar o ambiente como a nossa economia. É importante também incentivar à compra de menos produtos embalados e processados.

Qual é que considera ser “a receita” de que precisamos para uma mudança verde?
Precisamos de desmistificar algumas ideias e consciencializar os consumidores que as suas escolhas alimentares têm um impacto no nosso ambiente. Com dicas práticas, com soluções simples, pouco a pouco, todos podemos fazer a diferença. Esta é a mensagem que deve ser feita. Eu dou um exemplo: todo os dias faço um direto de cozinha, e umas das coisas que ensino sempre são os caldos aromáticos. Não é nada mais do que reaproveitar as cascas e talos das hortícolas e ervas aromáticas, colocar tudo numa panela com água a ferver e utilizar essa base para um conjunto de pratos. Poupamos água, combatemos o desperdício alimentar e reduzimos a quantidade de sal. Aliamos a sustentabilidade a uma alimentação saudável. Neste momento tenho toda uma comunidade de seguidores que já utiliza esta prática no seu dia-a-dia. Com pequenas ferramentas e mudanças de atitude podemos fazer a diferença.

Na sua cozinha reciclam-se mais alimentos ou embalagens?
Eu diria que alimentos. Eu desde sempre que para mim desperdiçar recursos não fazia parte da minha forma de trabalhar. Desde novo que ouvi a minha avó a dizer que “quem poupa no tostão vê o milhão”, o que significa que temos que poupar nas pequenas coisas. E eu cresci com esta ideia de não desperdiçar nada. Aliás, para mim, na cozinha nada se perde tudo se transforma.

E fora da cozinha, quais são os cuidados ambientais que tem no dia a dia?
A poupança de água e eletricidade são dois cuidados que tenho como fundamentais. Seja a lavar ou a regar o jardim, seja a lavar a loiça, tenho sempre especial atenção para evitar uma utilização exagerada. Tento reciclar ao máximo. Além de chef tenho uma paixão por bricolage, restauro e obras no geral, pelo que tento aproveitar tudo ao máximo, mais uma vez tudo se transforma. Particularmente, adoro restaurar carros antigos. Tenho uma série de carrinhas pão de forma restauradas com cozinhas montadas que utilizo para eventos.

Considera que um chef pode inspirar à mudança?
Sem a menor dúvida. Sobretudo na época em que vivemos, em que o papel do Chef de cozinha se tornou uma imagem reconhecida e com importância social. Seja nas nossas escolhas de ingredientes, nos métodos de confeção, nos materiais que utilizamos e até mesmo nos nossos espaços, podemos ser um exemplo e aliar a sustentabilidade, a alimentação saudável, a proteção do nosso ambiente, com pequenas mudanças, e inspirar o próximo.