Carta ao Leitor – Bruno Costa

Caro(a) Leitor(a) da RECICLA,

Sempre tive uma sensibilidade para com os animais e a restante Natureza. Tudo surge a partir de 2012, quando tive oportunidade de fazer trabalhos de levantamento das diferentes espécies costeiras, da flora dunar, da flora marinha ou da avifauna. Seguidamente, surgiram as entrevistas a antigos pescadores, que trabalhavam nas praias, na pesca ou na recolha de algas. Foi aqui que tomei conhecimento da estreita relação entre uns e outros.

Dou um exemplo muito expressivo desta ligação: os antigos pescadores, privados da tecnologia, faziam observação do comportamento das aves. Observavam os gansos-patolas, que fazem voos picados entre os 20 e os 30 metros de altura para caçar, e deslocavam-se para onde estas aves mergulhavam, para pescar também.   

Em 2017, criei, com a minha mulher, um projeto chamado Mar de Experiências que pretende transformar todo esse conhecimento em valorização e divulgação da cultura costeira recorrendo a documentários, livros e jogos. Já em 2018, através de instalações artísticas criadas com lixo recolhido nas praias, começamos a contar as histórias com os resíduos, a par da inevitável mensagem de sensibilização para a poluição marítima. 

A observação, a recolha e o acompanhamento do trabalho da Ana Pêgo, com o seu projeto Plasticus Maritimus, levou-me a criar a primeira exposição, “Biodiversidade que nos conta história”, que incluiu 12 instalações, construídas com lixo recolhido das praias, representativas da biodiversidade local. Aqui conta-se a história do surgimento da pesca na minha terra, Vila Chã, Vila do Conde. “A sardinha Lourença”, a “Pardela do Rão”, o “Polvo Ferreiro” são algumas das instalações que contam as vivências dos locais com estas espécies.  

Acredito que o conhecimento é a melhor forma para cuidarmos do planeta e podermos ser mais sustentáveis. Trabalhar com lixo faz-me sentir útil. Pela experiência que tenho, atrevo-me a dizer que consigo passar duas mensagens: uma cultural e outra de sensibilização para as questões ambientais. 

É na valorização e divulgação deste património que acredito que está a base da sustentabilidade. Quem ama, cuida.   

Bruno Costa,
Artista Plástico