Nos dias que correm torna-se urgente seguir um caminho mais sustentável e com menor impacto no ambiente. Mais do que escolher produtos produzidos com maior cuidado ambiental, as próprias empresas começam a dar os primeiros passos na descarbonização. Mas, afinal, o que é isso de descarbonizar?

O que é descarbonizar?

Impõe-se, antes de mais, definir este conceito de que tanto se fala. Descarbonizar pode descrever-se como a ação de eliminar a utilização de energias provenientes de combustíveis fósseis, como o carvão, gás ou petróleo, de forma a reduzir, até a eliminar, a emissão de gases com efeito estufa. Assim, quando uma empresa inicia o processo de descarbonização significa que implementou medidas em todas áreas de atividade para terminar com a emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido de azoto (N2O) e ozono (O3).

Porque é que é preciso as empresas descarbonizarem?

No dia a dia utilizamos energia elétrica numa panóplia de ações e atividades. Para produzir essa mesma energia, ao dia de hoje, ainda é indispensável o recurso a combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás natural. A utilização e a queima destes recursos naturais não renováveis são prejudiciais para o ambiente, pois causam a libertação de grandes quantidades de gases promotores do efeito estufa.

Estes gases, ao serem libertados, absorvem radiação solar e redistribuem-na na atmosfera, criando o tão conhecido efeito de estufa e aquecendo a superfície terrestre.

Apesar de o efeito de estufa ser essencial à vida na terra, o seu consecutivo aumento conduz à subida da temperatura e às alterações climáticas que desencadeiam o derretimento das calotas polares, o que, por sua vez, leva ao aumento do nível do mar, causando problemas um pouco por todo o globo.

Sendo a intensificação da utilização de combustíveis fósseis pelas diversas atividades económicas, da indústria à pecuária, passando pelos transportes, o que faz aumentar efeito de estufa, torna-se, pois, indispensável descarbonizar.

É obrigatório no nosso país?

Sim, é obrigatório. Portugal comprometeu-se, em 2016, na Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas em alcançar a neutralidade carbónica até 2050.

Para isso, foi estabelecida a redução de emissões de gases com efeito estufa entre 85% e 90%. Prevê-se que as restantes emissões sejam compensadas através da retenção de carbono pelos solos e florestas.

Para atingir estes valores. foram estabelecidas metas para 2030. A estratégia implementada dá pelo nome de Plano Nacional Energia e Clima (PNEC) e tem como objetivos:

  • Descarbonizar a economia nacional;
  • Dar prioridade à eficiência energética;
  • Reforçar a aposta nas energias renováveis e reduzir a dependência energética;
  • Garantir a segurança de abastecimento;
  • Promover a mobilidade sustentável;
  • Promover uma agricultura e floresta sustentáveis e potenciar o sequestro de carbono;
  • Desenvolver uma indústria inovadora e competitiva;
  • Garantir uma transição justa, democrática e coesa.

O que é essencial fazer para descarbonizar?

O PNEC estabelece metas nacionais e objetivos a cumprir nos diferentes setores de atividade. Tendo como referências os valores de emissões registados em 2005, o compromisso é para diminuir em:

  • 70% a emissão de gases de efeito estufa no setor dos serviços;
  • 40% as emissões no setor dos transportes;
  • 11% as emissões no setor da agricultura;
  • 30% no que diz respeito a resíduos e águas residuais;
  • E ainda em 35% no setor residencial.

Atingir estes valores implica:

  • Reduzir entre 45% e 55% as emissões de gases com efeito de estufa;
  • Incorporar 47% de energia de fontes renováveis no consumo de energia;
  • Reduzir 35% do consumo de energia primária, isto é energia obtida através de recursos naturais que ainda não sofreu qualquer tipo de transformação.

O que é que as empresas andam a fazer para descarbonizar?

Todos os anos é lançado um novo Relatório de Lacunas de Circularidade (o Circularity Gap Report), um documento que mede o estado da circularidade mundial e que tem como objetivo inspirar a agir e a melhorar a economia circular global. Segundo os últimos dados conhecidos, apenas 8,6% da economia mundial é circular.

O mesmo relatório dá-nos conta de que para manter o planeta habitável é necessário duplicar estes dados, isto é, passar para pelo menos 17%.

Em Portugal, há já diversas empresas a agir e dar os primeiros passos nesta matéria. É o caso da Sovena, que opera no setor do azeite. O grupo já consome apenas energia 100% renovável. No entanto, quer ir mais longe e aproveitar as infraestruturas da unidade fabril do Barreiro para instalar 1600 painéis fotovoltaicos e, assim, produzir energia elétrica. Com a conclusão deste projeto, prevê produzir mais de 15% da energia consumida na fábrica, o que vai, por sua vez, permitir reduzir anualmente 265 toneladas de CO2.

A Nespresso em Portugal também já caminha neste sentido e já reduziu em 20% as suas emissões de carbono nas operações logísticas. A empresa criou um novo processo de receção de mercadoria e conseguiu tornar a operação mais eficaz. Além disso os armazéns foram organizados em função das vendas para potenciar os percursos, reduzir o número de entregas e, claro, o a quantidade de CO2.

Ainda no setor alimentar e com vontade de dar o primeiro passo rumo à descarbonização, a Mars, empresa detentora de marcas como M&Ms Snickers, Twix, Orbit, entre outras, assumiu o compromisso de reduzir as suas emissões carbónicas em todas as áreas de atuação, incluindo em viagens de negócios.

O grupo pretende ainda acabar com a desflorestação na sua cadeia de fornecimento, sobretudo nas matérias-primas chave que têm maior impacto ambiental; transitar para a utilização de energia renovável; ampliar as iniciativas de agricultura sustentável e desafiar todos os seus trabalhadores a estabelecer objetivos e a tomar medidas para individualmente combaterem as alterações climáticas.

No setor automóvel, a Volkswagen é outro exemplo do que as empresas estão a fazer em direção a uma mobilidade neutra em carbono, afirmando-se empenhada em reduzir as suas emissões de CO2 numa média de 17 toneladas por veículo, até 2030. Comparativamente com os dados relativos a 2018, esta medida corresponde a uma redução de 40% de emissões de dióxido de carbono.

O fabricante automóvelvai acelerar a transição para a mobilidade elétrica, numa ação que inclui a cadeia de abastecimento e funcionamento de veículos elétricos. A este objetivo junta-se a ainda a incrementação da reciclagem de baterias de alta voltagem de veículos elétricos antigos.

A segurança privada está também a assegurar o futuro do planeta e a Prosegur propõe-se estar na linha da frente. Intitulando-se a primeira empresa do setor a avançar com um projeto de descarbonização, iniciou um projeto de compensação de emissões de CO2.

Entre as medidas já implementadas ou em implementação estão: a redução de 10% das emissões de dióxido de carbono, a substituição de 10% dos veículos da frota para híbridos e/ou elétricos e o consumo de energia proveniente de fontes renováveis.

E entre serviços e empresas há ainda que dar destaque à The Navigator, uma das primeiras empresas a nível mundial a assumir o compromisso de garantir a neutralidade carbónica nos seus complexos industriais. O objetivo é que em 2035 todas as unidades fabris obtenham uma redução de 86% nas emissões de CO2.

Para isso, já implementou diversas medidas como a utilização de fibra de Eucalyptus globulus, que permite um menor consumo de madeira e uma reciclabilidade entre 60 a 150% superior quando comparado com outras espécies. Além disso, 90% dos materiais utilizados nas fábricas são renováveis, com a Navigator a valorizar 87% dos seus resíduos, recorrendo para isso ao aproveitamento energético e à compostagem.

Rumo à redução em 50% das suas emissões até 2030, a L’Oréal Paris já anunciou um novo conjunto de medidas a implementar para alcançar esta meta. Além de contribuir com 10 milhões de euros para projetos ambientais cujos beneficiários são comunidades de mulheres de diferentes partes do globo, o grupo estabelece ainda outros objetivos. Otimizar a embalagem para acelerar a mudança para uma economia circular e utilizar embalagens 100% recicladas são apenas dois deles.

Já aqui lhe mostramos que a L’Oréal Paris é uma marca que marca. Os esforços do grupo já vão tendo resultados: entre 2005 e 2020, as fábricas e centros de distribuição conseguiram reduzir em 82% as emissões de CO2, em 44% o consumo de água e em 35% a quantidade de resíduos.

Em Portugal, são cada vez mais as empresas empenhadas em descarbonizar. Continue a acompanhar a RECICLA para saber mais sobre o que andam a fazer, e o que pode fazer em prol do planeta.