Para ser sustentável é preciso ser vegan? Qual é a ligação entre o consumo de carne e as alterações climáticas? Será que basta mudar a alimentação para ajudar a melhorar o ambiente? A RECICLA ajuda na resposta a estas perguntas.

Em Portugal, a quantidade de pessoas a adotar uma alimentação à base de vegetais é cada vez maior. Segundo os dados da Associação Vegetariana Portuguesa (AVP), 11% da população adulta do país opta por este tipo de dieta.

Mas estará o consumo de carne associado à sustentabilidade?

Nos últimos anos, têm sido promovidos estudos para perceber se existe uma relação direta entre o consumo de carne e as alterações climáticas.

Há estudos que concluem que sim. E são enumeradas algumas razões. Desde logo, a maior emissão de gases de efeito estufa provocados pela desflorestação intensiva de grandes áreas florestais, como acontece na Amazónia.

Isto porque a destruição do manto vegetal, muitas vezes realizado por queimadas, tem como objetivo convertê-lo em zonas de pasto ou de plantio para alimentar o gado.

Outras razões que apontam para que o consumo de carne seja negativo prendem-se com pormenores como a quantidade de água utilizada no processo de criação dos animais.

Com base nestes dados, a Associação Mercy For Animals estima que, por dia, cada pessoa que não consuma carne esteja a poupar 24m2 de floresta, assim como a evitar a emissão de 11 quilos de CO2 para a atmosfera e ainda a poupar 60 litros de água doce limpa.

Em linha com esta ideia, um estudo de 2020 da Universidade de Oxford concluiu que uma mudança para uma alimentação de base vegetal é essencial para evitar as piores consequências das alterações climáticas. Segundo a investigação, uma alimentação estritamente vegetariana pode reduzir a pegada de carbono até 73%.

Ser vegan é ser sustentável?

Do outro lado da balança há também cientistas que dão um ponto de vista diferente. É o caso do investigador Frank Mitloehner, da Universidade da Califórnia.

Segundo este autor, os combustíveis fósseis são a principal fonte de emissões de carbono. Frank Mitloehner acredita que é atribuído demasiado peso ao gás metano, que permanece menos tempo na atmosfera quando se calcula a emissão de carbono da atividade pecuária.

Assim, a pergunta mantém-se: será o veganismo o fator chave para uma pessoa se tornar mais ecológica?

Parece consensual que é um primeiro passo numa caminhada com vista à redução individual da pegada de carbono. No entanto, não é exclusivamente esta prática que torna uma pessoa mais sustentável.

A advertência vem da própria Associação Vegetariana Portuguesa: “Além de uma alimentação de base vegetal, outras ações ajudam a sermos sustentáveis. No nosso site propomos algumas formas de cada um reduzir a pegada ecológica, por exemplo, melhorando a nossa eficiência energética”.

Reduzir a quantidade de desperdício de alimentos é mais uma forma de contribuir para a diminuição do envio de gases de efeito estufa para a atmosfera. Sabia que o estudo PERDA, o Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar, concluiu que os portugueses desperdiçam um milhão de toneladas de comida por ano?

Mais do que uma questão social, o desperdício é nocivo também para o ambiente. A comida descartada, ao começar a decompor-se, gera gás metano, um dos responsáveis pelo efeito estufa.

No total, o desperdício alimentar é responsável por 8% das emissões destes gases para a atmosfera. Por cada quilo de comida desperdiçada são gerados 2,5 quilos de CO2e (CO2e significa dióxido de carbono equivalente. Uma medida internacional que representa os gases com efeito de estufa em forma de dióxido de carbono).

O que é preciso para ser mais sustentável?

Ser vegan, vegetariano ou flexitariano pode ser um ponto de partida, mas há muitas outras ações a pôr em prática.

A par de evitar o desperdício alimentar, compostar, fazer a separação das embalagens, reaproveitar tudo o que for possível em vez de descartar, ou descartar corretamente os resíduos são outras “boas ações” que contribuem para um mundo mais sustentável.