Reciclar tem de ser tão “natural como lavar os dentes”
“Reciclar embalagens não tem de ser um esforço. Tem de ser algo natural, como lavar os dentes”, assegura Ana Isabel Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde (SPV), no início do debate moderado por João Maia Abreu, com Luís Newton, vogal do conselho diretivo da Associação Nacional de Freguesias e presidente da Junta de Freguesia da Estrela; Pedro Morais Soares, presidente da Junta de Freguesia de Cascais e Estoril, e Luísa Schmidt, socióloga e investigadora coordenadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Para a CEO da SPV, o que falta é um “melhor serviço ao cidadão”. Admite que existem assimetrias no País: “Recolher embalagens em Trás-os-Montes ou no Algarve no pico do turismo não é a mesma coisa.” Lembrando que “os resíduos têm valor económico e ambiental”, Ana Trigo Morais deixa um alerta: “Estamos a crescer na produção de resíduos e na quantidade de resíduos que vão para os aterros.”
No mesmo sentido, Luís Newton, vogal do conselho diretivo da Associação Nacional de Freguesias, considera que o maior “desafio” é o da “operação”: “Não podemos defraudar a expectativa das pessoas: querem fazer a reciclagem, mas encontram os ecopontos cheios e depositam ao lado. Por mais boa vontade que tenham, o resíduo não vai entrar no circuito porque é considerado contaminado e deixa de ser recolhido”, explica. Educar e premiar Luís Newton, que é também presidente da Junta de Freguesia da Estrela, em Lisboa, garante que “não é preciso mais dinheiro” mas antes apostar na “educação para a operação”. “As pessoas que fazem a operação há 30 anos não vão agora fazer de forma diferente porque acordaram para a consciência ambiental. Quem faz a recolha é o poder local: é aqui que temos de centrar esforços”, assegura.
Educar e premiar
Luís Newton, que é também presidente da Junta de Freguesia da Estrela, em Lisboa, garante que “não é preciso mais dinheiro” mas antes apostar na “educação para a operação”. “As pessoas que fazem a operação há 30 anos não vão agora fazer de forma diferente porque acordaram para a consciência ambiental. Quem faz a recolha é o poder local: é aqui que temos de centrar esforços”, assegura.
Já Pedro Morais Soares, presidente da Junta de Freguesia de Cascais e Estoril, sugere que poderão existir incentivos à reciclagem através de “alguma premiação” como “descontos em tarifas de estacionamento ou na fatura da água”. É necessário também “apostar no ecodesign e garantir que as empresas colocam no mercado bens mais duradouros” e deu um exemplo: “Mobiliário urbano: quantas empresas produzem à base de embalagens de plástico recicladas? Não existe em Portugal. Tenho de ir a Espanha ou ao Norte da Europa para encontrar empresas que produzem bancos de jardim ou caixotes do lixo [a partir de embalagens de plástico recicladas].” Na opinião de Luísa Schmidt, socióloga e investigadora coordenadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, ainda existe um “défice de conhecimento”. “A reciclagem entrou na perceção dos portugueses, mas muitas vezes não a fazem bem feita”, afirma. Por isso, “é preciso investir na proximidade e na diversidade dos agentes” como “as juntas de freguesia, mas também as escolas e campanhas diferenciadas” como a dos Prémios Gervásio, que “resultou muito bem”. Para a socióloga, “as pessoas têm de perceber a vantagem económica na criação de emprego, de valor e também o impacto ambiental” da reciclagem. Por isso, acredita que as “políticas de proximidade podem fazer a diferença” e sugere a criação de “uma nova figura: o mediador da sustentabilidade”.
Empresas e freguesias
Ana Isabel Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde (SPV), lembra que “a reciclagem não se esgota no consumidor” e que, nesse sentido, as “empresas de grande consumo estão a olhar para o perfil das suas embalagens para conseguirem mais eficiência económica e ambiental”. “Não conheço nenhuma empresa que não queira ser sustentável, mas muitas vezes o conhecimento não está lá”, afirma a responsável máxima da SPV. Por isso, “as políticas públicas são muito importantes para acompanhar essa cadeia de valor”.
Luís Newton deu como exemplo um projeto que está a implementar na sua freguesia (Estrela): a instalação de sensores em “mais de 500 papeleiras” com “uma solução tecnológica que transmite em tempo real o estado da papeleira”, ou seja, se está cheia ou vazia. É preciso “criar as condições para que o consumidor sinta que é igualmente fácil libertar- -se de um resíduo orgânico ou diferenciado”, afirmou. Quando isso acontecer, “vamos assistir a um novo crescimento” da reciclagem.
Pedro Morais Soares lembra que “Cascais/ Estoril foi a primeira freguesia do País a abolir a utilização do plástico descartável”, mas quando foi necessário “encontrar alternativas, por exemplo, para fazer uma sardinhada ou um lanche com crianças, os preços eram exorbitantes”. Na opinião do autarca, “os sacos de plástico são taxados e bem”, mas faltam opções viáveis: “Temos de arranjar alternativas, porque a que existe é um saco de papel no qual se colocam as compras e rebenta.”
Luísa Schmidt lembra também a importância de “credibilizar a imagem do sistema”: “Não é só o ecoponto cheio, mas vem a camioneta e junta tudo.” No encerramento, o secretário de Estado do Ambiente, Emídio Sousa, lembrou, numa mensagem em vídeo, que a reciclagem é “um dos maiores desafios que temos em sociedade”, sobretudo tendo em conta os “indicadores muito maus em termos de cumprimento de metas”. Por isso, o Prémio Junta-te ao Gervásio “é um passo importante na separação de resíduos, reutilização dos materiais e pegada ecológica”.
O QUE FALTA É CRIAR CONDIÇÕES E DAR ALTERNATIVAS PARA INCENTIVAR OS PORTUGUESES A FAZEREM RECICLAGEM, CONCORDARAM OS PARTICIPANTES NO DEBATE
Fonte: Correio da Manhã