Amante da reutilização, tem os olhos treinados para ver formas de dar nova vida a todo o tipo de objetos. Autora do blog “O mundo ao contrário” e de um alojamento local eco-friendly, abraça a ecologia de forma natural. Admite que o mundo da sustentabilidade lhe trouxe desafios, mas que basta procurar saber mais para os superar.

O que a levou a seguir um caminho mais amigo do ambiente?

Sempre tive bastante consciência ambiental. Sempre fiz muita reciclagem, reciclava tudo o que conseguia. Pensava sempre ‘eu preciso disto. Vou ver se há em segunda mão, porque escuso de estar a comprar novo’; sempre fui de aproveitar materiais, e gosto muito de trabalhar com as mãos, por isso, consigo olhar para as coisas, quer seja um tecido, uma taça, ou algo que já não tenha uso, mas que pode ganhar uma segunda vida.

Não estava muito desperta para a questão da sustentabilidade. Eu fazia muita coisa, mas não tinha essa consciência. Até que um dia, em dezembro de 2019, fui ao mercado de Campo de Ourique e conheci um projeto que me encantou: o YogurteNest. Esta empresa utiliza uma bolsa de tecido que permite fazer iogurtes. Em conversa com uma das responsáveis percebi que havia um caminho muito maior e que há muito mais coisas que se podem fazer. Ao ler e a investigar sobre o assunto comecei esta viagem pelo mundo da sustentabilidade.

No início fazia pequenas trocas, os produtos que iam acabando ia substituindo por algo melhor, fosse de cosmética, beleza, ou outros e fui calmamente abraçando este percurso.

Num dia a dia mais ecológico, o que é mais fácil de adaptar e o que é o mais difícil de fazer?

A compostagem é das coisas mais desafiantes. Porque envolve muito trabalho. Para mim, era um grande objetivo e já o atingi. Também na cozinha. Demoro mais tempo. A alimentação não é fácil. Sempre comemos de tudo e continuamos a comer de tudo, mas muitas das refeições vegetarianas que também procuro fazer, demoram uma eternidade a preparar.

Depois as restantes mudanças vêm naturalmente.

A Patrícia tem um blog e uma página de Instagram que se chama O mundo ao contrário. Acha que viver mais consciente e com maiores cuidados ambientais é viver ao contrário (da regra)?

Acho que sim. Quem está muito desperto para estas coisas é uma bolha muito pequenina. Embora eu veja que há cada vez mais pessoas despertas para as questões ambientais. As empresas hoje em dia estão também mais atentas. Os jovens já abordam muito estes temas, nas escolas e nas universidades. Mas é um caminho que demora muito tempo, que tem muitos avanços e muitos recuos.

Por outro lado, vejo que há cada vez mais negócios a surgirem com produtos mais responsáveis e mais amigos do ambiente.

Por falar em negócios, tem um alojamento local. Este negócio procura também ter uma pegada carbónica reduzida?

Sim. Tudo o que utilizei de elementos de decoração e mobiliário, foi tudo adquirido em segunda mão, algumas coisas, inclusive, encontrei no lixo.

Janela encontrada no lixo

Tudo o que são detergentes e amenities é comprado a granel e de marcas muito conscientes. Depois, além da reciclagem, há também um caixotinho para se fazer a compostagem, com as indicações necessárias. Nem todos aderem. Incentivo os hospedes a fazerem poupança de água e tenho vindo a fazer alguns investimentos no apartamento no sentido de o tornar energeticamente mais eficiente. Troquei janelas, instalei máquinas de lavar loiça e roupa com classificações energéticas bastante elevadas.  Aos pouquinhos vou implementando estas medidas.

Juntar sustentabilidade à atividade turística é difícil?

O turismo é uma atividade que envolve muita emissão de CO2, sim. O Turismo de Portugal faz regularmente formações e eu fiz todo o percurso de cursos de sustentabilidade.

Quando eu criei o alojamento local, uma das coisas que fiz questão de ter foi mobiliário e alguns produtos feitos por mim ou que aproveitei de casa que já não precisava. Ao longo do tempo tenho vindo a fazer remodelações na decoração, mas tenho sempre aproveitado coisas que encontro em segunda mão ou que reaproveitei. Os detergentes mais ecológicos só mais tarde é que comecei a utilizar.

Quem é que gostaria de inspirar e quem acha que inspira com este exemplo?

Se puder inspirar as minhas filhas fico muito contente 😊. É o meu legado. De alguma maneira já lhes ensinei muita coisa. Por exemplo, uma delas pegou numa camisa antiga do pai e transformou-a uma blusa para ela giríssima.

Quem é que a inspira a fazer mais e melhor?

É a minha família. Faço por todos nós, mas sobretudo pelas minhas filhas, porque quero deixar um mundo melhor para elas.

Há imensa coisa que podemos fazer. E a mensagem que gostava de deixar é: se tivermos dúvidas, procurar. Procurar sempre e procurar fazer melhor. Está tudo disponível.